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"Não podemos achar que sabemos tudo, a vaidade trava o crescimento", a mentalidade da construção de grandes negócios em palco com Camila Farani

15/08/2025 • Última actualización 3 Meses

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A mentalidade define um negócio. Seu objetivo, estratégias e trajetória. Mas quais os desafios e decisões que transformam o início de um projeto em um grande empreendimento? Esse foi o tema da palestra "De startup a BigTech", realizada nesta sexta-feira, 15 de agosto, no palco do Conecta Varejo, no último dia do Rio Innovation Week. Com participações de Camila Farani, maior investidora anjo mulher da América Latina, Anderson Chamon, cofundador e vice-presidente executivo de Novos Negócios do PicPay, e Cristina Palmaka, conselheira da Vivo, Eurofarma e C&A, o debate foi repleto de insights e, principalmente, de muito incentivo à inspiração para arriscar e se destacar no mercado, entendendo como grandes empresas nascem, crescem e se mantêm relevantes em um mercado em constante transformação.

Criando ecossistemas, acima de negócios

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Negócios se constroem com várias mãos, assim como nosso setor é erguido com o braço da indústria, por exemplo. Portanto, é importante manter um olhar sempre amplo, como destacou Cristina Palmaka: "Eu já trabalhei em grandes companhias. Sempre fui uma empreendedora dentro das empresas. Trabalhei em companhias bacanas, mas para mim, a parte de ecossistema é uma das mais importantes. Primeiro, porque nenhuma empresa faz nada sozinha. Mesmo as grandes companhias, ao criarem seus produtos, precisam de um ecossistema. Esse aprendizado, de ter uma mente aberta para entender que o seu ecossistema pode vir de parceiros, investidores, depende da sua localização geográfica, mas é essencial. Por exemplo, concorrentes. Em alguns momentos, tivemos concorrentes que faziam parte do nosso ecossistema. Em outras situações, competíamos diretamente com eles. Então, é fundamental ter essa visão aberta: entender onde sou bom, o que preciso do ecossistema como complemento e como criar isso de forma que seja um ganha-ganha. Tem que ser assim para a empresa que está conduzindo e também para o ecossistema. Já ouvi muita gente dizer: 'Vamos montar um ecossistema para tornar tudo mais barato, mais acessível'. Porém, se a matemática não fecha para todos os envolvidos no processo, não funciona".

"É importante enxergar todo o ecossistema se retroalimenta. Por exemplo, no ecossistema de startups, quando fazemos um recorte com tecnologia, o que você tem? Você tem os empreendedores, mas os empreendedores não vivem sem os investidores, que, no fim do dia, precisam das aceleradoras, que por sua vez precisam das incubadoras, que dependem do setor público, que dependem do setor privado. Então, é cada vez mais importante entender que você não está sozinho. E buscar, cada vez mais, fortalecer o seu ecossistema, o ecossistema dos seus negócios", frisou Camila Farani.

Anderson Chamon também pontuou: "Eu acho que, quando você constrói um produto, uma plataforma sobre a qual novos negócios podem surgir, é aí que você realmente tem um ecossistema. Ou seja, negócios sendo criados por pessoas que vendem para outras empresas em cima do seu produto. E temos vários exemplos. O TikTok é um deles, o Google também. O PicPay nasceu com esse viés. Sempre pensamos assim. Desde o início, experimentamos muita coisa diferente. Essa é a filosofia de um ecossistema".

O início da escalada: defina seu mercado e foque em pessoas

Oferecendo diversos insights sobre a caminhada de preparar e alavancar negócios, o cofundador e vice-presidente executivo de Novos Negócios do PicPay alertou: "O primeiro passo depende do contexto de cada um, mas existe muita dor quando você escala. Primeiro, é preciso encontrar o product-market fit: o que estamos vendendo? Qual é o nosso produto? Qual é a proposta de valor que estamos oferecendo? Essa fase, no Picpay, foi muito demorada. Levamos muito tempo para encontrar, de fato, o nosso product-market fit. E, como consequência disso, a busca por ele foi constante. É muito diferente construir um negócio que ainda não existe, em comparação com criar algo que já tem um modelo mental estabelecido. Quando você cria algo novo, precisa tomar cuidado para não tentar abraçar o mundo. É preciso focar em características específicas. Primeiro, construir um produto que as pessoas queiram usar. Segundo momento, reter. Depois, foco em receita".

"Grandes corporações também precisam fazer market-fit. Porque isso muda, o consumidor muda, os concorrentes mudam. E todo mundo quer crescer, escalar, todos estão tentando encontrar qual é o próximo salto, qual é a próxima grande oportunidade. E, algumas vezes, as

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grandes companhias ficam esperando, achando que estão seguras, que têm um nome forte, mas elas também podem desaparecer. Acho que manter-se sempre atento ao 'lobo' é fundamental. Se não estiverem, as empresas quebram e somem. Temos vários exemplos por aí, empresas que pareciam intocáveis e desapareceram. Por isso, é essencial pensar nisso como parte do DNA da empresa. E desde o dia um", ressaltou Cristina Palmaka.

Camila Farani concluiu: "A ordem é essa: primeiro as pessoas, depois o produto e a tecnologia, e em terceiro lugar observar as culturas, porque culturas diferentes, significam comportamentos de consumo e mentalidades diferentes. Então vejam, estamos falando de prioridades. É preciso olhar para si. De uma forma que seja efetiva, de uma forma que você consiga sentir".

Lidar com a frustração: controle suas expectativas, aprenda com erros e tenha humildade

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Anderson Chamon expôs a necessidade de estar constantemente atento a não se frustar com as próprias expectativas de seu negócio: "Primeiro, isso é o tempo inteiro. Na minha vida, a frustração só vai mudando de patamar. É quase como um videogame. Na primeira fase, o chefe é mais fácil, você vence. Depois vai passando de fase, e os desafios vão ficando mais difíceis. Hoje, as fases são bem mais complexas, mas as frustrações continuam muito parecidas. Como eu lido com isso? Geralmente, quando tenho uma frustração muito grande, algo que eu queria muito fazer, com uma expectativa alta, eu percebo que isso vale para tudo na vida. Na minha opinião, frustração e expectativa são irmãs. A mãe da frustração é a expectativa. Ou seja, quanto mais distante a realidade estiver da minha expectativa, maior será a frustração quando ela bater à porta. Então, na minha vida, eu aprendi a manter minhas expectativas lá embaixo. Nos negócios, levo isso comigo. Várias vezes me peguei frustrado e pensei: 'Minha expectativa estava errada'. Então eu ajusto. Quando levo uma pancada e caio no chão, minha tendência é juntar os cacos, esperar passar, e depois voltar. Eu sempre volto. Sempre penso: 'Como é que eu faço diferente para alcançar aquele objetivo?'. Se algo deu errado, eu busco uma nova forma de chegar lá. Desistir é muito raro para mim. Esqueço a frustração e foco na solução".

"Sobre pressão, porque não é só a frustração, tem a pressão também, é até engraçado. A gente vai se acostumando com ela e vai melhorando. Eu brinco que, se pegassem o eu de 2002 e o teletransportassem para hoje, ele não aguentaria. Ao longo da minha jornada, fui aprendendo a lidar com a pressão e com os desafios. Tenho uma analogia que uso bastante: o 'teto'. Às vezes você chega num ponto e pensa: 'Dei teto. Cheguei no meu limite. Não sei o que fazer. Quem me ajuda? Como resolvo isso?'. Mas, com o tempo, você aprende, supera, e percebe que o seu teto aumentou. Você consegue ir mais longe, liderar melhor, tomar decisões melhores", prosseguiu o o cofundador e vice-presidente executivo de Novos Negócios do PicPay.

Anderson Chamon finalizou com uma lição pessoal: "Por exemplo: hoje eu lidero pessoas muito mais sérias do que eu. Em outros tempos, eu não saberia como lidar com isso. Mas aprendi. E meu teto aumentou. Hoje eu aguento uma pressão muito maior do que antes. Isso é fruto de um aprendizado contínuo. E acho que tem uma coisa essencial para esse processo acontecer: humildade. Não podemos achar que sabemos tudo. Se eu acredito que já sei tudo, perco a chance de aprender. Isso, para mim, é vaidade. E a vaidade trava o crescimento. Sempre procurei me desprender disso. Um exemplo prático: em 2018, eu era CEO do PicPay. Quando fui para São Paulo, comecei a contactar pessoas e trouxe alguns de Vitória comigo. Naquele momento, eu comecei a perceber e falar pro time: "Talvez o CEO não deva ser eu". A verdade é que eu criei um negócio tão grande, que se eu me candidatasse à vaga de CEO da empresa hoje, eu não seria contratado. Eu só estou aqui porque fui o cara que criou. Mas eu era um teto para empresa. Reconhecer isso foi doloroso. Foi um processo interno difícil. Mas entendi que precisava trazer alguém do mercado, alguém com mais preparo para esse momento. E foi o que eu fiz, no início de 2019. Trouxemos o primeiro CEO externo, e hoje temos um CEO de mercado. Estou super feliz com isso. Aprendo absurdamente com ele. Ele me ajuda demais".

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Encerrando o painel Cristina Palmaka salientou: "Temos que aceitar que nunca estamos totalmente preparados. Nunca estamos 100% prontos, sempre vai existir alguém bacana, melhor em algo, que pode nos complementar. Eu sempre fui boa em montar 'xadrez de pessoas', como costumam dizer. Gente que me complementa justamente nas partes em que eu tenho alguma debilidade, ou que pode me desafiar. Eu gosto de conversar com quem me desafia. Acho importante respeitar o fato de que nunca vamos saber tudo e, para mim, essa é a parte mais legal. Fico em paz em saber que não sei tudo e que posso continuar aprendendo. Inclusive, hoje aqui, aprendi muito. Quando nos permitimos esse espaço, realmente aprendemos, sem mascarar, sem medo. Não saber não é fraqueza. Não saber não é ter medo. É olhar para situação, correr atrás de alternativas e, de verdade, buscar aprendizado para ir ao próximo nível. Para mim, isso traz habilidade, traz flexibilidade, competências que eu aprendi a desenvolver bem ao longo do tempo".

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