
"Não tenha medo da IA, mas foque nas pessoas": reflexão sobre o futuro humano em um mundo cada vez mais tecnológico

Começou o Rio Innovation Week / Conecta Varejo, e a estreia do palco dedicado ao setor varejista, nesta terça-feira, 12 de agosto, trouxe à tona um tema urgente, transformador e inevitável: a inteligência artificial. Mais do que discutir a tecnologia em si, a proposta apresentada foi olhar para além da ferramenta — e entender o papel do ser humano em um cenário de transformações exponenciais. A palestra de abertura, intitulada "Para além da IA: O que nos resta num mundo em transformação exponencial", foi ministrada por Lucas Daibert, sócio e vice-presidente de Estratégia da Binder, que instigou o público com reflexões provocativas sobre o presente e o futuro das relações humanas, profissionais e de consumo em meio ao avanço das tecnologias.
A velocidade da mudança: exponencial e inevitável
"Minha palestra pretende uma reflexão. Vamos fazer uma imersão sobre o que está rolando no mundo da IA, o que está acontecendo no mundo da tecnologia, e depois vamos refletir, para pensarmos juntos o que sobra para nós, humanos, no ambiente que a tecnologia está virando tudo, e em uma velocidade muito rápida", destacou Lucas Daibert logo nas primeiras frases de sua apresentação.
"A Amy Weeb, que vai palestrar também aqui no Rio Innovation Week, fala que há décadas em que nada acontece e há semanas em que décadas acontecem. Essa frase, por sinal, ela adaptou da Revolução Russa. E é isso que estamos vivendo, um momento em que a transformação é muito rápida. O que acontece é que a transformação faz parte da vida, a permanência é a mudança, mas a velocidade do momento em que estamos vivendo é muito especial. As IA's que vemos estão se desenvolvendo de 5 a 10 vezes ao ano. Isso significa que no Rio Innovation Week de 2030, potencialmente estaremos observando como a IA vai ter um chat GPT no bolso, ou qualquer que seja outro aplicativo, que será 100 mil vezes mais capaz do que o que temos hoje. Por quê? 10 sobre 10 sobre 10. Quem já entrou no juro do cartão de crédito, já entrou no cheque especial no banco, sabe o que é juros exponencial. É juros sobre juros. 10 sobre 10 sobre 10. 2030 no Rio Innovation Week, imaginem, é algo que potencialmente será 100 mil vezes mais capaz do que temos hoje. Isso é a velocidade da mudança exponencial que estamos vivendo. Evidentemente, isso vai mudar a maneira que vivemos, a maneira que trabalhamos. Por isso que muitos acham que os próximos 5 anos vão ser anos intensos de transformação", prosseguiu o VP de estratégia da Binder.
O palestrante ainda pontuou: "Outro exemplo, que muitas empresas vão passar a ter, é o gênio digital. O que significa? Você não vai mais ficar testando na vida real as coisas da sua empresa. Você vai testar decisões, vai simular crise, vai avaliar o impacto de decisão no gênio digital, a surpresa que opera num simulacro da realidade. E ali você vai ter um mapa, todo o mapa, se vale a pena ou não vale a pena. Vai ser muito mais ensaiado do que de fato rodado na prática. Você vai ter menos necessidade de testar a prática. Isso muda muito, mas é preciso que as empresas se organizem".
Gêmeos digitais e intimidade artificial: o novo normal
Daibert apresentou ainda conceitos como o de "gênio digital" e "gêmeo digital" — simulações precisas da realidade que permitirão que empresas testem decisões estratégicas, simulem crises, analisem impactos e façam reuniões sem sair do ambiente digital. "Outro exemplo, que muitas empresas vão passar a ter, é o gênio digital. O que significa? Você não vai mais ficar testando na vida real as coisas da sua empresa. Você vai testar decisões, vai simular crise, vai avaliar o impacto de decisão no gênio digital, a surpresa que opera num simulacro da realidade. E ali você vai ter um mapa, todo o mapa, se vale a pena ou não vale a pena. Vai ser muito mais ensaiado do que de fato rodado na prática. Você vai ter menos necessidade de testar a prática. Isso muda muito, mas é preciso que as empresas se organizem. Já vemos um pouco disso na questão do gêmeo digital na versão profissional. Vamos ter, aliás, isso já é possível, criar o seu avatar para fazer aquela reunião, que para você poderia ser um e-mail. Essa tecnologia, essa ferramenta, já está disponível. Estamos em uma situação que vamos entregar nossa intimidade para a IA, informações que a plataforma não teria, ela passará a ter acesso", explicou o palestrante.
Outro ponto relevante foi a entrada da IA em espaços íntimos. "Já estamos entregando informações pessoais para algoritmos que nos conhecem profundamente. Desde brinquedos com IA que se conectam emocionalmente com crianças, até relacionamentos afetivos com inteligências artificiais. A questão deixa de ser o que é real ou não. Passa a ser: 'isso me faz bem?'", continuou Daibert.
IA, biotecnologia e a redefinição do que é humano
O palestrante também falou sobre os impactos positivos, como o uso da IA em biotecnologia. Um exemplo: o desenvolvimento de células digitais que permitirão a criação de medicamentos altamente personalizados.
"Mas vamos olhar o lado positivo e interessante disso, como um projeto de fazer células digitais para poder treinar os medicamentos. Pensemos o seguinte, quando tomamos um medicamento, estamos treinado em uma base de questões. E quando tivermos uma célula digital exatamente igual à nossa, vamos fazer medicamentos específicos. Mas até isso pode ter danos. Pensem, podemos viver com a explosão de soluções de biotecnologia que muitos apontam, todos os especialistas, vamos multiplicar as possibilidades. Alguns especialistas já falam que vamos chegar no mundo de parar a mortalidade. Não teremos mais a causa natural, você vai morre se você for atropelado no caminhão", afirmou Daibert.
"Obviamente isso muda muito a vida. A maneira que trabalhamos. Tanto que, no mundo da tecnologia, podemos ter uma pessoa multiplicada em centenas pela IA. Evidentemente isso tem um impacto social significativo. Vamos passar a não ter uma profissão, mas uma caixinha, várias habilidades de como você pode, então, desempenhar diferentes papéis da vida", disse em sequência.
O que permanece essencial: gente
Apesar de todos os avanços, Daibert reforçou que o principal ativo continuará sendo as pessoas. A IA trará soluções e questionamentos, mas um fator permanecerá sempre presente, essencial e necessitando constantemente de crédito e aposta.
"Com essa taxa exponencial da IA, você terá que resetar a sua organização com mais frequência. É difícil fazer essa palestra, porque eu falo sobre esse tema já há alguns anos, e não dá para aproveitar uma apresentação. A cada apresentação, a sua última é outra. É impressionante. Moldamos a tecnologia no meio da sua concepção. Esse movimento vai nos mudar. É por isso que eu acho que, agora que eu falei disso tudo, de tecnologia e da mudança exponencial dela, e como temos que nos comportar, eu queria falar então de pessoas. No final é tudo sobre gente. Por exemplo, o negócio da Netflix não é a tecnologia. O negócio da Netflix é ter entendido que a vida das pessoas mudou. Porque as pessoas estão repensando os hábitos, a tecnologia mudando as pessoas. É isso que, no final, temos que olhar, as pessoas. Eu amo a seguinte frase: quem entende de gente sempre vence. Não importa. Quem entende de gente sempre vence. Olha só que interessante. Queria fazer esse ponto aqui, no final não é sobre a IA pela IA, isso não tem o menor em compasso", declarou o palestrante.
"No final, é sobre pessoas, mais que sobre a nossa tecnologia. É para isso que temos que olhar, não é a IA a questão, é como a IA traz benefícios, como a IA melhora a nossa vida. Olhar o benefício às pessoas e, nesse sentido, eu acho que toda inovação tem que estar servindo, evidentemente. Perry, que é o CEO de Amazon Stores, diz que na visão deles o consumidor não vai mudar, a nossa cultura de inovação é o que o nosso consumidor sempre vai desejar. Menor preço, mais velocidade, mais sentimento. Se você for parar para ver, a Amazon saiu de uma livraria para uma gigante. Gente que entende de gente sempre vence. Devemos estimular a nossa autonomia de cultura de inovação, que tenhamos autonomia, inclusive para errar, porque a inovação é evidentemente relacionada com a cultura que eu aceito. A tecnologia permite que você tenha contato com o humano, com o seu cliente", continuou Daibert.
Uma nova cultura: menos medo, mais colaborações e mais humanizadaEncerrando sua apresentação, Daibert deixou um recado claro: criar conexões reais será ainda mais valioso em um mundo automatizado.
O VP de estratégia da Binder concluiu: "O que nos sobra? Primeiro, criar uma futura renovação verdadeira dentro da nossa empresa. Segundo ponto, ser relacional. O que podemos fazer com isso? Tem uma pesquisadora que fala que temos a saúde mental, a saúde física, também a saúde social. A saúde social é muito mais importante do que imaginamos. Esse tipo de parceria, de relacionamento, é com toda a cadeia. As outras marcas, as outras parcerias, as outras contratantes. E, claro, como que temos que olhar para esse ambiente todo? Primeiramente do relacionamento para ser construído. São ativos. A parceria, a colab, não é colab de Instagram, é uma colab das nossas empresas, investidores. É sobre storietelling. Nos prendemos as histórias. Precisamos encontrar sentidos, até nas marcas, para estabelecermos conexões. Antigamente, falava-se o que queria e as pessoas compravam. Agora é diferente. As pessoas enxergam as empresas. As marcas não podem falar apenas de si, mas das pessoas. Hoje, as pessoas esperam mais das marcas. Não fiquemos com medo da IA, mas foquemos nas pessoas. Criemos significado e histórias para nossas marcas. Sejamos relacionais, olhemos para nossa cadeia e formemos parcerias. Criemos também uma cultura de inovação, que no final esteja focada nas pessoas".
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