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ALAS discute o crescimento do Hard Discount nas Américas. ASSERJ te conta tudo em primeira mão!

26/08/2025 • Última actualización 3 Meses

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A Associação das Américas de Supermercados (ALAS) promoveu nesta terça-feira, 26 de agosto, mais uma edição do ALAS Conecta, um ponto de encontro estratégico, que reúne líderes e especialistas que transformam o setor supermercadista nas Américas, reforçando a importância do intercâmbio de experiências para o fortalecimento do nosso segmento em nível continental. Desta vez, as discussões foram dedicadas a um modelo que teve pouca aderência no mercado brasileiro: o Hard Discount.

Esse posicionamento de negócio tem se expandido rapidamente em diversos países. Foram apresentados modelo de operação, diferenciais e o potencial de crescimento em mercados emergentes, além do espaço para debates sobre tendências e oportunidades de expansão.

Hard Discount: o que é?

O Hard Discount é um formato focado em oferecer produtos de qualidade a preços significativamente baixos, com uma operação de baixo custo e sortimento muito limitado, principalmente quando comparado aos modelos que temos no varejo supermercadista fluminense. A manutenção rigorosa das regras do modelo, disciplina operacional e volume de compras são os fatores basilares desse posicionamento. Enquanto redes tradicionais de supermercados oferecem maior variedade, serviços e experiência de compra mais abrangente, o Hard Discount foca na eficiência e rapidez, com operações enxutas. A estratégia desse modelo inclui:

  • Preços baixos: obtidos por compras em grande volume e eficiência operacional;
  • Baixo custo de operação: lojas simples, com autosserviço e quase nenhum serviço adicional;
  • Mix limitado: número reduzido de produtos, priorizando giro rápido;
  • Marcas próprias: predominância de marcas próprias, garantindo margem de lucro;
  • Foco em produtos básicos: itens de necessidade diária do consumidor.
Hard Discount: case Colômbia

Na exposição apresentada no ALAS Conecta, conduzida por Erik Morales, líder de experiência do consumidor para o varejo andino da NielsenIQ, e Ginna Rodríguez, líder de cluster para o varejo andino da NielsenIQ, o foco foi o cenário do modelo na Colômbia, país das Américas com crescimento de destaque no segmento de Hard Discount.

"Ao analisarmos o país que ilustra como pode se consolidar um Hard Discount em uma região como a nossa, vemos a Colômbia, que nos dá essa radiografia que mostra o desenvolvimento que pode ter. Mas ainda se percebe que esta região está em crescimento, com muitas oportunidades de desenvolvimento em torno do Hard Discount, em relação ao que pode ser visto em outros países que já têm esse modelo há mais tempo na Europa. Portanto, é um mercado que ainda oferece muitas oportunidades. Mais de 15 anos após sua abertura, de 2009 a 2024, podemos ver claramente como o Hard Discount se desenvolveu. Em 2018 estava em 8,4%, hoje já está em torno de 21%. Nesse contexto de crescimento desse canal a indústria cresce, mas o canal tradicional e as redes são os principais atores onde ocorre migração. A cobertura que os Hard Discounts alcançam na Colômbia é quase igual à do canal tradicional, que é muito forte e consolidado no país. Isso demonstra o desenvolvimento desse tipo de canal na região", destacou Erik Morales.

Ginna Rodríguez complementou: "É relevante comentar algo. O contexto na Colômbia, que pode ser similar em outros países da América Latina, é que esse canal 'down the trade', ou seja, o conjunto entre canal tradicional, independente e de bairro, tem grande peso nesses mercados, pois culturalmente o consumidor está muito propenso a realizar compras nesses canais. Quando chega o canal de discounters, cria uma disrupção. No início, havia dúvida se esse canal iria canibalizar. A resposta é não. O consumidor é multicanal, ou, como se diz em muitos fóruns, é infiel de certa forma na escolha do local de compra, e há espaço para todos. Isso quer dizer que há espaço para um canal de desconto em desenvolvimento, mas também para os modelos tradicionais, que permanecem na mente do consumidor".

Erik Morales prosseguiu: "A Colômbia já está avançada nessa dinâmica do canal, não falamos mais de uma primeira fase de penetração e expansão. Já há outras camadas que impulsionam o crescimento do canal, passando a um 'desconto 2.0', que vai além da proposta de valor e sortimento, inclusive no tamanho dos pontos de venda. Em outros países, a curva ainda está em etapa preliminar, mas por causa da experiência avançada da Colômbia, países como Peru e Equador provavelmente seguirão um caminho mais acelerado. A evolução dos pontos de venda de Hard Discount, de janeiro de 2020 a dezembro de 2024, na Colômbia, é impressionante: de 1.000 para 5.500 pontos de venda. Há estratégias de preço e proximidade, penetrando regiões onde não havia canal moderno".

"Quando analisamos penetração e gasto das famílias nos diferentes canais na Colômbia, vemos que o Hard Discount segue crescendo em penetração e gasto, com volume de gasto importante. A lealdade aos discounters está em 28%, marcada por compras repetitivas. Mas, como já dissemos, o shopper agora tem mais alternativas e se move dentro dessas alternativas. É um marco competitivo bem interessante. Mas também vemos que os canais tradicionais estão muito consolidados", explicou em sequência o líder de experiência do consumidor da NielsenIQ.

Morales concluiu: "Os compradores do Hard Discount podem ser segmentados em 'light', 'medium e 'heavy'. Os 'light' têm menor gasto (15%) e penetração (48%), comportamento menos leal e frequência mais distanciada. 'Medium' e 'heavy' apresentam frequência maior, sendo o heavy com ticket médio duas vezes maior que light. Quanto às categorias, cestas de higiene, bebidas, alimentos e cuidado pessoal são as mais importantes. Higiene é sensível ao preço e marcas próprias penetraram significativamente. Produtos alimentícios têm barreiras adicionais para troca de qualidade por preço. No pareto das 15 categorias de venda do Discounter, 17% não pertencem às cadeias e 24% do gasto são de marcas comerciais. Fabricantes já produzem SKUs específicos para discounters. Com o tempo, há expansão do portfólio, incluindo categorias como pet e dermocosméticos, começando a oferecer perecíveis como carne e algumas frutas, aumentando o ticket médio. A estratégia inicial foca em cobertura massiva de pontos de venda, e depois se concentra em rentabilizar o tráfego aumentando o ticket".

Cenário no Brasil

Apesar do crescimento registrado em diversas nações das Américas, o modelo de Hard Discount pode enfrentar obstáculos diferentes no Brasil, como explica Ginna Rodríguez: "Esse padrão não se limita à realidade colombiana, mas se repete na América Latina, exceto em alguns países como o Brasil, onde a estrutura é diferente e o canal 'pague e leve' tem papel importante, voltado a consumidores que buscam economia por volume. Nos demais países, a dinâmica é mais próxima do observado na Colômbia".

No Brasil, o modelo de Hard Discount ainda não se mostra atraente para os consumidores. O hábito de consumo local e de preferência consolidada, além da necessidade de adaptação cultural e operacional ao comportamento do consumidor, torna o segmento dinâmico, com necessidade de adaptações aceleradas, mas que só adota novos modelos se estiverem aliados a retorno perceptível e aos costumes locais. Por exemplo, o formato de atacado passou a mesclar características do varejo, criando o modelo de atacarejo, o que mostra que as especificidades do consumidor brasileiro são fortes.

"Atacado, atacarejo, supermercado e hipermercado são posicionamentos que respeitam os costumes e hábitos locais. Isso é a maior prova de que é o consumidor quem manda no nosso negócio. Nem sempre o que acontece no exterior se reproduz aqui, pois temos um DNA próprio e uma capacidade de observação diferenciada. O varejo brasileiro observa o retorno do consumidor e se transforma rapidamente. Por atender diretamente o cliente, consegue escutar suas demandas com agilidade e ajustar o modelo de operação em velocidade muito rápida. No Brasil, o que prevaleceu até agora foi o modelo de atacarejo e as redes regionais, que continuam fortes. Mas isso não é definitivo, já houve momentos de hipermercado e outras tendências. O mercado está sempre em evolução", frisa Fábio Queiróz, presidente da ASSERJ e 1º vice-presidente da ALAS.

Ainda no cenário brasileiro, neste ano, a varejista russa Svetofor, com a bandeira Vantajoso, planeja entrar no mercado com um Ultra-Hard Discount, oferecendo operação ainda mais enxuta, com menos de 2.000 itens, produtos expostos em caixas e paletes, priorizando marcas próprias e pequenos produtores. O plano inicial, a priori, era abrir 15 unidades no estado de São Paulo até o final do ano.

Características específicas do Brasil (e do Rio de Janeiro)

I - Preferência histórica: o brasileiro possui hábitos de compra muito enraizados e em modelos já consolidados, que atendem às necessidades de preço e conveniência. Com experiências sólidas, o cliente não enxerga motivação para migrar de modelo;

II - Adaptação ao comportamento: o Hard Discount, apesar de sua evolução na América Andina, é um modelo desenvolvido na Europa e nos EUA, onde o consumidor está mais acostumado a lojas menores e mix reduzidos, por exemplo. No Brasil, o consumidor aprecia a variedade nas gôndolas, além do atendimento oferecido em loja e da experiência de compra, criando uma barreira de difícil transposição para outros negócios. Especificamente no Rio de Janeiro, o tradicional modelo de lojas regionais ocupam ainda um papel central no imaginário popular, construído através da proximidade e da confiança;

III - Alta competitividade: ainda que ofereça grandes descontos, o Hard Discount encontraria, no contexto fluminense, além de concorrentes consolidados, negócios que já oferecem preços baixos;

Em resumo, ainda que em alta crescente em diversos mercados, com resultados de relevância, o Hard Discount viveria, no Brasil, e no estado do Rio de Janeiro, uma necessidade de adaptação de modelo, que talvez impacte no tempo de maturação do negócio.

ASSERJ e ALAS: a importância da atualização para o varejo supermercadista

Para o varejo supermercadista do estado Rio de Janeiro, eventos como o ALAS Conecta são essenciais. Acompanhar tendências internacionais, entender modelos inovadores de operação e analisar experiências de outros mercados permite que identifiquemos oportunidades, aprimoremos estratégias e, principalmente, nos preparemos frente à concorrência.

A ASSERJ segue atenta a toda troca de conhecimento possível, para fortalecer nossa rede de associados, criando uma base sólida e preparada para desafios, garantindo que o varejo fluminense siga em constante evolução, oferecendo valor e cada vez mais presença na vida dos consumidores.

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