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Feijão em movimento: sua estratégia de preços está pronta?

24/09/2025 • Atualizado pela ultima vez 2 Meses

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Os preços dos feijões carioca e preto registram alta generalizada, de acordo com levantamento do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea). Para o feijão carioca de melhor qualidade (notas 9 ou superior), a combinação de procura aquecida e “postura firme dos produtores, que buscam negociar novos lotes a valores maiores”, sustenta o movimento. A oferta de grãos com padrão superior também está menor, reforçando a pressão.

No caso do feijão preto tipo 1, a entressafra e a necessidade de recomposição de estoques mantêm o mercado ativo. Apesar da reação recente, “os valores do grão preto seguem próximos ou ligeiramente abaixo das médias históricas do Cepea”, que considera dados desde setembro de 2024.

Visão do varejo

Para Andenilson Vidal, diretor comercial do Supermercados Unidos, o cenário já vinha dando sinais de mudança: “Houve uma retração de informações de preços de alguns produtores, e algumas marcas até pareciam estar segurando os valores. As vendas fracas neste mês também causaram uma menor procura, mas logo veio a informação de aumento. Digamos que era esperado, mas não acreditávamos, ainda mais com dados da Scanntech mostrando a queda vertiginosa de cereais como arroz e feijão.”

Segundo ele, a estratégia agora é manter o relacionamento com os atuais fornecedores: “Agora é buscar ações, mas, na maioria dos casos, não existe troca de fornecedor ou produtor, principalmente por se tratar de produtos fidelizados e regionalizados — o cliente, em geral, tem sua marca preferida. O que pode acontecer são ofertas com aplicação de margens reduzidas para chamar o cliente.”

Já João Marcio, diretor comercial do Princesa, relata que ainda não se percebe um aumento efetivo nos preços do feijão, nem uma tendência clara de alta. O que ele observa é uma tentativa da indústria de puxar os preços para cima, especialmente depois da forte queda ocorrida nos últimos meses.

"Existe, de fato, uma vontade de reajustar os valores, mas não há firmeza nesse movimento. Não sentimos que a alta seja motivada por demanda ou por problemas de safra; parece mais um esforço da indústria para melhorar um pouco os números, que estão em níveis muito baixos, do que uma necessidade real de aumento. Portanto, embora esse seja o patamar sugerido, ainda não é possível garantir que os preços se mantenham nesse nível."

Produção e consumo

O Brasil é um dos maiores produtores de feijão do mundo, especialmente das variedades carioca e preta. Na safra 2023/24, a produção nacional alcançou 3,24 milhões de toneladas, alta de 6,8% sobre o ciclo anterior. O consumo interno, embora robusto, apresenta queda per capita, influenciado por mudanças nos hábitos alimentares e pela concorrência de outros alimentos.

Mesmo com demanda doméstica significativa, o país reforça sua presença no mercado internacional. De janeiro a novembro de 2024, as exportações brasileiras de feijão somaram 304,95 mil toneladas — o maior volume já registrado.

No campo, a colheita da terceira safra 2024/25 está na reta final, enquanto produtores iniciam o plantio de 2025/26. Especialistas alertam que os custos de produção também subiram, o que pode afetar a rentabilidade. A oferta limitada de grãos de qualidade superior deve continuar pressionando preços, principalmente se a demanda externa se mantiver firme.

Perspectivas para 2025/26

Para a próxima safra, a expectativa é de preços estáveis. “O cenário é de manutenção de preços. Isso significa que serão preços históricos na média”, afirmou Sílvio Porto, diretor de Política Agrícola e Informações da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Segundo ele, os valores devem ficar abaixo dos picos da pandemia, “mas sem quedas bruscas”.

Porto descarta repetições de recordes: “Não dá para imaginar que nós vamos ter de novo soja acima de R$ 200 ou a saca de milho acima de R$ 100. Isso nós não vamos ter”. Ele avalia que a estabilidade favorece o sistema de produção, trazendo previsibilidade e impacto positivo nas cadeias de ração animal, carnes e, por consequência, nos preços ao consumidor.

Componentes externos, como “o tarifaço dos Estados Unidos” e a possível ocorrência do fenômeno climático La Niña — que tende a reduzir as chuvas no Sul —, são pontos de atenção. Ainda assim, Porto acredita que “o Brasil acaba se posicionando bem, tende até a se beneficiar desse processo, ao contrário do que imaginaram quando foi imposto isso”.

Feijão, uma “caixinha de surpresa”

O único alerta no curto prazo é para o feijão carioca, que pode apresentar sobressaltos de preços em 2025/26. “Está havendo uma pressão de preços muito significativa e há análises de que talvez nós tenhamos alguma surpresa de uma retomada de preços em um patamar um pouco superior do feijão”, disse Porto. “Se manter a projeção da safra, eu diria que vai ter estabilidade, mas o feijão é sempre uma caixinha de surpresa.”

A Conab projeta para 2025/26 colheita de cerca de 3 milhões de toneladas, consumo de 2,8 milhões e estoques de passagem levemente mais altos. A companhia observa que “o feijão mantém quadro de oferta elástica e decisões táticas”, destacando que as redes varejistas operam com estoques mais enxutos e seletivos, o que pode interromper, mesmo que de forma moderada, a trajetória de queda ao consumidor.

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