
Preço do azeite: panorama X visão de negociação de supermercadistas

Após três meses de queda acumulada superior a 25%, os preços em origem voltaram a subir, interrompendo a tendência de baixa e trazendo incertezas para importadores e compradores das grandes redes. Por enquanto, analistas apontam estabilidade no curto prazo.
De acordo com fontes ligadas à ASSERJ, já foram aplicados pequenos reajustes nas negociações com o varejo supermercadista, entre 1% e 2%, em razão do fim dos estoques da safra anterior. Esses ajustes, porém, não configuram tendência nem permitem prever alta ou queda expressiva nos preços. A nova colheita está apenas começando e deve trazer um panorama mais definido nos próximos meses.
Safra 2025-2026 sob observação
A nova safra, que vai de 1º de outubro deste ano a 30 de setembro de 2026, dependerá das chuvas e temperaturas de setembro e outubro. O Ministério da Agricultura da Espanha projeta para 2024-2025 uma produção de 1,29 milhão de toneladas, 50% acima da safra anterior (855,6 mil toneladas) e bem superior ao volume de 2022-2023 (666 mil toneladas).
Entretanto, o otimismo inicial foi afetado por um verão de calor extremo. A Agência Estatal de Meteorologia (Aemet), do governo espanhol, registrou a onda de calor mais intensa já medida em agosto, provocando estresse hídrico nos olivais e redução da floração.
Risco de perda na colheita
Juan Luis Ávila, gerente de olival do Comitê de Agricultura da Espanha (COAG), alertou em comunicado que “as oliveiras suportam bem o calor, mas 25 dias acima de 40 °C podem provocar uma produção até 30% menor” em regiões como Jaén, Córdoba e Granada. Ele estima perdas de 10% a 20% no restante do país e torce por “uma mudança imediata no clima, que traga chuvas e temperaturas mais amenas, para garantir uma colheita razoável e preços acessíveis ao consumidor”.
Para Luis Carelos Varela, gerente de azeite da Asaja, em entrevista ao site espanhol La Información Económica, ainda é cedo para projeções. “Com um outono normal, a azeitona amadurece bem e a colheita pode ser semelhante à de 2024-2025, ligeiramente superior, pois os reservatórios estão cheios”, afirmou. Ele calcula que os estoques de azeite extravirgem variam entre 270 mil e 300 mil toneladas, suficientes para abastecer o mercado até setembro.
Preços em alta
De acordo com o sistema Infaoliva, o azeite extravirgem voltou a superar a barreira de 4 euros/kg na origem, patamar não registrado desde fevereiro:
Extravirgem: 4,30 €/kg
Virgem: 3,58 €/kg
Lampante: 3,45 €/kg
Vale destacar, contudo, que durante o verão, o extravirgem chegou a cair para 3,20 €/kg, mas a tendência agora é de alta.
Estoques e produção
A Espanha produziu 1,41 milhão de toneladas nesta safra. Os estoques atuais somam 412.612 toneladas, após a comercialização de 93% do volume, segundo a Agência de Informação e Controle Alimentar (AICA). O nível ainda reflete o déficit acumulado das safras anteriores.
Olhar do supermercadista brasileiro
Para o diretor comercial da Redeconomia Thiago Cunha, o movimento recente reforça a necessidade de cautela: “O azeite teve uma queda grande nos últimos três meses, mais de 25%, mas agora está estável. O mercado acelerou muito as vendas nos últimos seis meses por conta da oferta grande que tivemos. A colheita de outubro é para venda após o Natal. O que já foi esmagado lá é para vender no Natal. Acredito que os preços se mantenham por enquanto. Ainda existe um déficit de produção devido às perdas dos anos anteriores; a azeitona subiu e não baixou porque a safra e os estoques reguladores ainda não se equalizaram.”
Segundo Cunha, cada rede de varejo adota sua própria estratégia de negociação. “É difícil falar em prazo exato. O lead time de entrega do produto da Europa para o Brasil é de 30 a 60 dias e, no momento, não há movimento forte de negociação antecipada, já que a nova colheita está apenas começando”, completa.
O diretor comercial dos Supermercados Unidos, Andenilson Vidal, acrescenta que algumas marcas tentam aproveitar a retração internacional para reposicionar preços: “Algumas marcas estão buscando aproveitar a queda de preços internacionais e fazer um reposicionamento, ajustando-se à nova realidade. Essa movimentação dos supermercados também ajuda a manter os preços mais competitivos, mas esbarramos na queda de margem de um produto que agrega valor. Mas isso faz parte do mercado, que está afoito e agressivo para conquistar clientes, principalmente aqueles que aumentam o ticket médio”, diz Vidal. De modo geral, segundo ele, a rede tem encontrado mais abertura dos fornecedores para bons negócios, especialmente quando o volume é a peça fundamental da negociação.
"Nas redes associativas, buscamos unificar as compras para ganhar escala e facilitar as negociações com os fornecedores. Esperamos mais ações e uma estabilidade de preços a partir de novembro, quando as festas de fim de ano aquecem itens sazonais — e, neste caso específico, o azeite, nosso de cada dia”, ressalta Vidal.
O que diz a indústria?
Segundo Cristiane Souza, presidente da Gallo no Brasil, “os preços não devem voltar ao patamar de 20 reais, mas podemos esperar estabilizarem entre 30 e 35 reais. Como inclusive já começamos a ver chegar nas prateleiras dos supermercados."
Ela destaca que esse cenário deve impulsionar um crescimento de 20% no volume de vendas da Gallo em 2025. “O azeite precisa sair das manchetes pelo preço e voltar a ser protagonista pelo sabor e pelos benefícios à saúde.”
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