
Varejo supermercadista entra em 2026 com perspectiva de aceleração — saiba por quê

O ano de 2026 chega impondo ao varejo supermercadista um desafio clássico: transformar os feriadões, Copa do Mundo e Eleições em estratégia — e não apenas em expectativa. Depois de um 2025 marcado por oscilações significativas, o setor inicia uma nova jornada em meio a contrastes, mas também com oportunidades claras de aceleração em categorias essenciais para as lojas.
Segundo dados da Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) do IBGE, o varejo apresentou um comportamento irregular ao longo de 2025. Em setembro, houve um recuo de –0,3% frente ao mês anterior (com ajuste sazonal), enquanto março registrou avanço de 0,8%, alcançando o melhor nível da série histórica.
No caso da receita dos supermercados fluminenses, medida pelo volume de vendas, houve queda de 0,1% em termos reais — ou seja, já descontada a inflação — na comparação com o mesmo período do ano anterior. Apesar da baixa, o setor acumulou alta de 0,9% entre janeiro e setembro e crescimento de 1% no somatório dos últimos 12 meses, ambos também em valores reais.
Esse cenário refletiu o que especialistas classificam como um “ano de volatilidade”, marcado por crédito ainda seletivo, inflação setorial em ondas e um consumidor mais disciplinado. Análises de CNC, FGV Ibre e Ibevar, ao longo de 2025, mostraram desempenho desigual entre segmentos, com bens duráveis e categorias dependentes de financiamento apresentando retrações em meses específicos.
No varejo supermercadista, relatórios de consultorias e entidades do setor indicam um movimento interessante: o fortalecimento das redes regionais, que expandiram participação em diversas praças por meio de logística mais eficiente, ofertas personalizadas e maior capacidade de leitura do comportamento local. Para os analistas, esse avanço evidencia a descentralização da competitividade — e um ambiente em que a precisão operacional se torna fator determinante.
Entre os consumidores, 2025 foi marcado por busca intensa por preço, praticidade e confiabilidade. O digital manteve força, mas o atendimento físico voltou a ganhar protagonismo em cidades médias e no interior — algo que impactou diretamente o varejo supermercadista, cuja capilaridade segue sendo vantagem estratégica.
Para Ricardo Nunes, especialista em varejo, o comportamento do consumidor em 2025 revela uma mudança estrutural: “O desempenho oscilante reflete não apenas o ambiente macroeconômico, mas também a maturidade do consumidor, que hoje compara mais, espera mais e compra de forma muito mais planejada do que há cinco anos”.
Ele reforça que essa busca por confiabilidade e disciplina nas compras acelerou transformações internas nas operações: “Quem não ajustar processos, estrutura e relacionamento com o cliente ficará pelo caminho”.
Perspectivas para 2026: oportunidades estratégicas para o varejo supermercadista
Economistas do varejo e consultorias especializadas projetam que 2026 pode trazer um ciclo de melhora gradual, condicionado ao ritmo de redução dos juros e à trajetória de recuperação da renda real.
Além das variáveis macroeconômicas, o calendário será decisivo: a Copa do Mundo cria um ambiente de consumo historicamente favorável às categorias de maior giro no varejo supermercadista, incluindo bebidas, alimentos para conveniência e indulgência, churrasco, itens sazonais, produtos para reunir a família e até eletroportáteis de tíquete médio.
Embora ainda não haja indicadores consolidados para medir o impacto esperado em 2026, especialistas apontam que o segundo trimestre deve concentrar o maior movimento.
Para Nunes, o evento cria um “momento de renovação de equipamentos e de fortalecimento das vendas em categorias ligadas ao entretenimento do lar”, ao mesmo tempo em que alerta para a necessidade de cautela: “O efeito existe, mas não deve ser tratado como gatilho automático. Depende da renda, do crédito e da confiança do consumidor”.
Categorias com melhor perspectiva de crescimento no varejo supermercadista em 2026
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Bebidas alcoólicas e não alcoólicas — historicamente impulsionadas em anos de Copa.
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Snacks, conveniência e indulgência — crescem em eventos esportivos, combinando ocasião e aumento do consumo domiciliar.
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Carnes, churrasco e itens sazonais — categorias com forte impacto promocional e alta elasticidade em datas de grande audiência.
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Eletroportáteis de tíquete médio — como fritadeiras, televisores de entrada e itens para preparo rápido, desde que preços se mantenham estáveis.
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Produtos de bem-estar e esportivos — acompanhando a retomada gradual da confiança e tendências de estilo de vida.
Categorias que exigem atenção e gestão mais rigorosa:
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Móveis e eletrodomésticos maiores — seguem sensíveis ao crédito e podem ter ritmo mais moderado.
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Moda e vestuário dentro do canal supermercadista — dependem fortemente da renda disponível.
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Produtos de alto tíquete geral — exigem estratégias cautelosas de sortimento e exposição.
2026 será um ano de execução — não de aposta
Depois de um 2025 heterogêneo, o varejo supermercadista entra em 2026 diante de oportunidades reais, mas seletivas. O cenário demanda precisão operacional, inteligência analítica, rigor na gestão de estoques e comunicação clara de valor — especialmente em categorias aquecidas pela Copa.
“Não há atalhos”, afirma Nunes. “O varejo que prosperará em 2026 é aquele que unir disciplina comercial, gestão de estoque inteligente e relacionamento real com o consumidor”.

