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Dia da Cerveja! Entenda como está a categoria!

01/08/2025 • Last updated 4 Months

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Ainda que resultados iniciais divulgados recentemente pela AMBEV apontem uma baixa em volume, a indústria cervejeira no Brasil detém uma grande força e papel essencial nas gôndolas dos supermercados, não à toa, o país é o terceiro maior consumidor mundial de cerveja. Porém, essa paixão nacional tem passado por uma repaginada aos olhos do consumidor, com a expansão do segmento brasileiro de bebidas sem álcool, em especial o de cervejas. Entre 2019 e 2024, o consumo da categoria quintuplicou, subindo de 140,4 milhões para 702,4 milhões de litros, de acordo com levantamento da consultoria Euromonitor. A expectativa é que esse número siga crescendo e atinja 785,9 milhões de litros neste ano e 885 milhões em 2026. Os dados revelam uma consolidação do setor nacional de cervejas zero álcool e reposiciona o Brasil como o segundo maior mercado mundial do produto, atrás apenas da Alemanha, segundo a World Brewing Alliance (WBA).

Mesmo que ainda represente apenas 5% do mercado total de cervejas no Brasil, o segmento sem álcool conquista espaço em escala exponencial (como demonstra a alta de mais de 400% nas vendas em seis anos). O aumento na procura e nos carrinhos de supermercados cheios impulsionou uma intensa movimentação por parte das marcas, que tentam se posicionar no nicho, focando na promoção de um novo estilo de consumir cerveja, mas mantendo a fidelidade da experiência das versões alcoólicas. Aliás, como destaca Márcio Maciel, presidente executivo do Sindicato Nacional da Indústria da Cerveja (Sindicerv), os números refletem uma transformação sem retorno.

Cerveja sem álcool 1

"O brasileiro está buscando mais equilíbrio e liberdade na hora de consumir cerveja. As versões sem álcool oferecem isso com sabor, qualidade e inovação. A indústria entendeu esse movimento e vem investindo pesado em tecnologia para entregar produtos que não deixam nada a desejar às versões tradicionais", frisa Maciel.

Os professores Marcelo Boschi e Rafael Yamaga, da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), destacam: "O crescimento do consumo de cerveja sem álcool no Brasil não é só um fenômeno de produto: é reflexo direto das mudanças culturais em curso. A comunicação no segmento entendeu algo crucial, quando não fala de saúde, mas propõe um novo estilo de vida possível, social e com sabor. E as mensagens das campanhas fogem da culpa ou do moralismo".

Outro dado sobre a força do setor é o fato de que, em uma década, o número de cervejarias no país disparou de 195 para 1.847. "O mercado cervejeiro brasileiro é um dos mais dinâmicos do mundo. É um setor que exige preparo, mas que oferece oportunidades incríveis para quem quer inovar e se conectar de verdade com o consumidor", pontua o presidente executivo do Sindicerv.

Crescimento de três dígitos amplia o portfólio de bebidas sem álcool no varejo

A movimentação no mercado brasileiro tem sido liderada pelas gigantes do setor, com destaque para a união de duas tendências em alta, cervejas premium e zero álcool, como a Heineken 0.0, a Ambev, com as versões de Budweiser e Corona, e a Estrella Galicia. Além disso, outro destaque é o crescimento no número de microcervejarias brasileiras, muitas com versões zero em seus portfólios.

"Diferentemente do mercado total de cervejas, o segmento de cervejas zero álcool no Brasil está em forte crescimento, acima da performance do mercado de cervejas premium, que também segue aumentando. Seja por uma busca de alternativas mais saudáveis ou para acompanhar bem diferentes ocasiões de consumo, o brasileiro abraçou a cerveja zero álcool e as perspectivas para os próximos anos são ainda melhores. Na Estrella Galicia, amamos fazer cerveja, mas não qualquer cerveja. Estamos na quinta geração da mesma família espanhola fazendo o que amamos há mais de cem anos: receitas únicas, autênticas e incrivelmente saborosas. Nossa 1ª cerveja zero álcool foi produzida na década de 80, o que nos torna verdadeiros especialistas nesse segmento", destaca Juliana de Aguiar Oliveira, diretora de mercado da Estrella Galicia.

"As marcas que se destacam hoje, como Heineken 0.0, Amstel Ultra e outras, apostam em narrativas que colocam a cerveja sem álcool como uma escolha ativa, moderna e consciente e não como 'segunda opção'. O discurso publicitário foca em autocuidado, sociabilidade equilibrada e versatilidade da ocasião de consumo", salientam Boschi e Yamaga.

Novos hábitos de consumo - não é só a cerveja

O fenômeno da cerveja sem álcool está inserido em um movimento ainda mais amplo, o crescimento global do mercado de bebidas zero álcool. Segundo relatório da Research and Markets, o segmento deve crescer de US$ 630 bilhões em 2025 para US$ 778 bilhões até 2029, um avanço anual de 5,4%. Esses números estão ligados a mudanças relevantes de comportamento, principalmente entre os consumidores mais jovens. A variedade de rótulos disponíveis nas gôndolas reforça essa transformação, com espumantes e vinhos zero álcool, além das cervejas.

Cerveja sem álcool 2

Esse novo perfil de consumidor busca a experiência do consumo das bebidas alcóolicas, mas como parte de um estilo de vida mais saudável e sem o "efeito rebote", consumindo não apenas por prazer, mas com escolha consciente e alinhada ao seu estilo de vida, com sabores semelhantes aos das versões originais dos produtos. Esse movimento, nomeado "Sober Curious" (termo criado pela autora Ruby Warrington em seu livro "Sober Curious"), procura uma relação mais saudável com o álcool, incentivando o consumo ocasional ou até abstinência. A experiência e a sensação passaram a ser o foco, ampliando as possibilidades de consumo. A cerveja 0.0, por exemplo, já faz parte de momentos antes pouco comuns para a categoria, como o almoço durante a semana ou em ocasiões que não combinam com bebidas alcoólicas, como a direção.

Os professores da ESPM explicam: "Outro ponto que vale ser mencionado (especialmente no contexto do Rio) — é o impacto da fiscalização de trânsito. O medo real do bafômetro, principalmente em uma cidade na qual as blitz são frequentes e rigorosas, também influencia o consumo. As empresas reforçam o imaginário da liberdade com responsabilidade".

Atenção, varejista! A indústria está em movimento, e você?

Cerveja sem álcool F1

Para o varejo supermercadista, essa é uma excelente oportunidade de ampliar o portfólio e oferecer opções que acompanhem as tendências do mercado, mas é preciso estar muito atento à demanda do público e às áreas diversificadas, como a da cultura e do esporte. Marcas têm investido cada vez mais em personalização da experiência de compra e em uma comunicação próxima com os valores desses clientes, mais conscientes e exigentes. Um excelente exemplo recente foi o lançamento do filme "F1", que aborda durante toda sua história, mas de forma leve, o consumo da cerveja 0.0 como uma opção mais saudável, sem a ingestão de álcool. O longa, inclusive, figurou entre as maiores bilheterias do cinema brasileiro desde a sua estreia, no fim de junho, até a penúltima semana de julho. Ou seja, a cerveja zero está no imaginário do consumidor. E deve retornar ainda mais forte com a chegada do filme ao streaming, prevista entre setembro e novembro.

Aliás, essa abordagem em filmes, séries, propagandas e patrocínios de eventos esportivos, é outro movimento forte da indústria para convencer o consumidor a adquirir os produtos da categoria, já que segundo uma pesquisa da Universidade de Oxford, 27% da Geração Z e 25% dos Millennials brasileiros ainda sentem a necessidade de justificar sua escolha por bebidas sem álcool em contextos sociais.

"O investimento em eventos (inclusive esportivos e culturais), somado à ampliação de portfólio com sabores novos e embalagens modernas, ajudou a naturalizar o consumo da cerveja zero em ambientes onde antes ela não teria espaço. Por fim, há um ponto técnico muito bem aproveitado pela comunicação: a melhoria das características sensoriais. Com o avanço da tecnologia, o sabor da cerveja sem álcool está muito mais próximo do original. Isso destravou uma barreira importante. Hoje, a cerveja zero não precisa se explicar tanto. Ela já se sustenta", reforçam Boschi e Yamaga.

Oportunidade para o setor supermercadista

Para o varejo supermercadista, a ascensão das bebidas zero álcool — especialmente as cervejas — representa uma oportunidade concreta de ampliar o mix de produtos, atrair novos perfis de consumidores e se conectar com tendências de comportamento. Ao oferecer a conciliação entre saudabilidade e experiência, nosso setor se posiciona como parceiro estratégico das indústrias nesse novo momento. Destacar as opções zero álcool, com gôndolas específicas, setores diferenciados e ofertas de produtos aliados à mesma percepção de estilo de vida, podem ser o diferencial no seu negócio para atrair os olhares de um mercado consumidor em plena expansão. Ações que incentivem o consumo consciente e a interação social aliada às bebidas zero podem incentivar o cliente e aumentar suas vendas.

Rafael Yamaga - Cerveja sem álcool

Os professores da ESPM ressaltam: "Para o varejo, especialmente o supermercadista do Rio de Janeiro, o cenário é extremamente favorável, mas exige inteligência no PDV. O mais interessante nesse momento é que o consumo da cerveja zero não compete com o da cerveja tradicional, ele expande o mercado, incluindo novos horários, novas pessoas e novas ocasiões. Quem entender isso, tanto na comunicação quanto no varejo, vai sair na frente. Afinal, os canais são muito fortes nesse tipo de produto".

Confira as dicas de Boschi e Yamaga:

Marcelo Boschi - Cerveja sem álcool

Organização de gôndola por ocasião de consumo, não só por marca: agrupar cervejas zero junto a snacks saudáveis, itens para churrasco light ou produtos de conveniência pós academia; ajuda o consumidor a entender onde aquela bebida entra na rotina dele;

Sinalização clara e com storytelling: mais do que “sem álcool”, o varejo pode comunicar “pra curtir sem abrir mão”, ou “sabor de verdade, com liberdade”. O ponto de venda precisa contar uma história rápida — visual, direta, com apelo de estilo de vida;

Amostragem ativa e eventos internos: degustações com promotores bem treinados, especialmente nos fins de semana, ainda funcionam muito bem. E vão ainda melhor quando associadas a datas comemorativas, campanhas de bem-estar ou ações conjuntas com academias locais, por exemplo;

Mix de produtos bem selecionado: não basta ter variedade, é preciso entender o perfil da loja. Em bairros com público jovem e mais consciente, há espaço para marcas artesanais e versões zero com sabor diferenciado. Em áreas de alto giro, vale apostar em preço competitivo e visibilidade.

Parcerias com apps e promoções cruzadas: um empurrão digital faz diferença. Integrar cerveja zero nas sugestões de compra de e-commerce ou apps de supermercado (exemplo: "pra quem vai dirigir depois…) pode aumentar o tíquete médio e reforçar o posicionamento do mercado como guia de experiências e não somente vendas e distribuição de produto.

Revisar portfólio, estudar o comportamento do consumidor e explorar novas formas de exposição e comunicação com esse público em transformação é essencial. O crescimento das bebidas zero álcool não é apenas uma tendência, mas um novo passo para o varejo supermercadista, mesclando inovação, responsabilidade e conexão com o futuro.

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