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Inteligência artificial, hiperpersonalização e experiência do consumidor: os debates do segundo dia da NRF Europe

18/09/2025 • Last updated 2 Months

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O segundo dia da NRF Europe, realizada em Paris, destacou, na última terça-feira, 17 de setembro, como a inteligência artificial, a hiperpersonalização e a integração entre físico e digital estão remodelando o varejo global. Executivos de diferentes setores apresentaram cases de inovação, estratégias de engajamento do cliente e evolução das operações, reforçando a importância de dados, tecnologia e experiência humana no futuro do setor.

Inteligência artificial aplicada ao varejo e operações

O papel transformador da inteligência artificial foi um dos principais temas do dia, apresentando como a IA está remodelando operações, supply chain e atendimento ao cliente. Olaf Maecker, vice-presidente de Inteligência Artificial e Automação da Metro, destacou que a tecnologia deixou de ser apenas um tema de hype para se tornar um divisor de águas, impactando eficiência operacional e experiência do consumidor. Ele ressaltou que a IA não tem o objetivo de substituir colaboradores, mas otimizar processos e permitir que equipes atendam melhor os clientes com agentes digitais e automação.

Ran Hu, diretora de IA para Varejo e Bens de Consumo da NVIDIA, explicou como a empresa oferece não apenas hardware, mas plataformas e bibliotecas especializadas que permitem aos varejistas aplicar IA de forma prática, desde visão computacional para self-checkout até otimização de armazéns e entregas. Jean-Christophe Morisseau, head de Enterprise IT Solutions da Lenovo, reforçou que a missão de sua companhia é reduzir a complexidade da adoção de IA, garantindo escalabilidade, consistência e viabilidade financeira. Segundo ele, programas como o AI Innovator compartilham melhores práticas globais, incluindo aplicações no varejo.

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Para Mark Irvin, diretor de Supply Chain na Best Buy, a cadeia deve funcionar como suporte à experiência em loja. A busca deve ser pelo equilíbrio, para que as unidades físicas não sejam sobrecarregadas como centros de distribuição, garantindo que vendedores e técnicos possam focar no atendimento e na consultoria ao consumidor. Irvin também frisou a importância da humildade diante do conhecimento em todo o processo, adotando constantemente a postura de aprendiz e futurista, com um questionamento constante: com quem aprender e de quem se aproximar.

Todos destacaram que a próxima fronteira será a "IA física", com robôs desempenhando tarefas complexas em centros de distribuição e lojas, mas sempre em colaboração com humanos. A expectativa é que, até 2030, consumidores interajam com avatares e agentes virtuais, enquanto colaboradores utilizem copilotos de IA para oferecer serviços mais rápidos e personalizados. Para que a tecnologia entregue valor real, os especialistas reforçaram três fatores: qualidade dos dados, contexto correto e adoção cultural nas equipes.

Hiperpersonalização e experiências únicas no e-commerce

Outro tema central foi a hiperpersonalização (tema abordado também no Rio Innovation Week deste ano. CLIQUE AQUI PARA CONFERIR), definida como a evolução da personalização tradicional, capaz de tratar cada cliente de forma única e ajustar ofertas, conteúdos e serviços em tempo real. Foram apresentados dados que demonstram impactos relevantes da estratégia, impulsionada pela IA: campanhas hiperpersonalizadas podem aumentar taxas de conversão em até 60%, elevar a receita média por cliente em 10% a 15% e gerar 40% mais receita para negócios que aplicam a estratégia com excelência.

Marc Lolivier, diretor-geral da FEVAD, enfatizou que o avanço do e-commerce, por exemplo, exige esse tipo de mudança na forma de se relacionar com o consumidor. Preço e conveniência já não bastam, é preciso oferecer experiência personalizada e relevante. Já François-Xavier Leroux, partner da KPMG, pontuou que a hiperpersonalização é uma revolução silenciosa, que muda a função do varejo digital, em cada interação se torna algo único e de alta relevância. Os palestrantes também disseram que, até 2030, essa característica será o diferencial competitivo mais relevante do e-commerce. Leroux, inclusive, declarou que já estamos entrando na era em que cada cliente deve ser tratado de forma singular.

A implementação da hiperpersonalização requer coleta e integração de dados em visão 360º do cliente, análise inteligente com IA, ativação em tempo real e mensuração contínua dos resultados. Além disso, os painelistas destacaram a necessidade de integração omnicanal, governança de dados, IA como copiloto estratégico e processos ágeis que permitam adaptação em escala. David Nedzela, CMO da SNCF, reforçou que esse movimento só faz sentido quando conecta pessoas, criando experiências memoráveis sem gerar fricção na jornada de compra. Para corroborar a visão, Nedzela citou o exemplo do Spotify, mostrando como o consumidor já se acostumou com ações hiperpersonalizadas em seu cotidiano, e que o varejo precisa aprender a interpretar os sinais de comportamento para oferecer o mesmo serviço, de forma fluida e invisível.

Experiência do cliente e engajamento

O conceito de transformar lojas físicas em centros de experiência e engajamento foi reforçado por representantes de diferentes segmentos. Fernanda Dalben, CMO do Salben Supermercados, mostrou como a rede brasileira tem usado inteligência artificial, dados e iniciativas de comunidade para criar pontos de socialização que reforçam a fidelidade do cliente, incluindo assistentes virtuais para localização de produtos, experiências em cafés e workshops criativos.

Nacho Carnes, head de Estratégia, Estratégia de Dados e Mídia Paga da Dunkin’ Benelux, e Jayne Rafter, especialista em varejo e lazer internacional, destacaram a importância de conectar dados e tecnologia à experiência física, utilizando IA para personalização de produtos, recomendações e interação humana qualificada. Eles reforçaram que a jornada do consumidor deve ser fluida entre canais digitais e lojas físicas, com experiências consistentes, personalizadas e orientadas a engajamento emocional.

Gestão de marcas e marketplaces integrados

Outro painel muito aguardado foi sobre a estratégia da Authentic Brands Group (ABG), que demonstrou como marcas globais podem ser transformadas em negócios multicanais, combinando tradição, inovação e alcance global. Segundo Corey Salter, diretor de Operações, da ABG, e Henry Stupp, presidente da empresa para Europa, Oriente Médio e África (EMEA) & Índia, o futuro do varejo passa pela conexão inteligente entre marcas, parceiros e consumidores, transformando propriedades intelectuais em experiências de consumo multicanal e emocionalmente relevantes. Ambos frisaram que marcas carregam conexões emocionais e é preciso desbloquear esse potencial, criando valor. (A não-linearidade da jornada do consumidor também foi tema do Conecta Varejo deste ano, nosso palco no Rio Innovation Week. SAIBA MAIS CLICANDO AQUI).

Posteriormente, Régis Pennel, diretor de e-commerce da Galeries Lafayette, Romain Roulleau, diretor digital e comercial do Kingfisher Group, Vitaliy Novikov, diretor de comércio digital da Coca-Cola HBC, e Nir Manor, partner da Transformational Retail Group, debateram sobre marketplaces, mostrando como grandes redes estão transformando suas plataformas em ecossistemas integrados, unindo lojas físicas, canais digitais, personalização, engajamento social e sustentabilidade. O uso de IA e dados permite hiperpersonalização, otimização de estoques e logística integrada, fortalecendo a relevância dos marketplaces como hubs de experiência e serviços.

Conexões genuínas com o consumidor: como construir?

Por fim, Dennis Schröder, CEO da SNIPES, e Bruno Owokoti, diretor de patrocínios e parcerias de marca do Paris Saint-Germain (PSG), expuseram como a importância da construção de comunidade é uma vantagem competitiva no varejo moderno. Segundo Schröder, programas tradicionais de fidelidade não são mais o bastante para garantir engajamento a longo prazo. A união de propósito, relevância cultural e parcerias consolidadas serão os pilares das marcas que assumirão a liderança no futuro, diante de consumidores que têm o desejo de fazer parte de coisas grandes. O foco não deve ser apenas em descontos, mas em solidificar conexões autênticas, com experiências que tenham sentido na vida do cliente. Uma marca relevante entende que investimento na comunidade é investimento na própria organização. O objetivo deve ser alcançar a simbiose com a cultura, se tornando parte dela, e deixando o status de marca para se transformar em um movimento.

As lições do 2º dia da NRF Europe para os supermercadistas fluminenses

Os debates da NRF Europe mostraram os caminhos para um desenvolvimento pleno do nosso setor em um futuro que, cada dia mais, se torna uma realidade presente. As rotas possíveis passam por questões bastante claras:

  • IA e tecnologia prática: inteligência artificial e automação devem ser implementadas com foco em problemas reais do negócio, tendo métricas claras para medir impacto;
  • Experiência personalizada: o passo para a hiperpersonalização precisa ser dado, transformando cada interação em uma jornada única, impactando diretamente em aumento de conversão, fidelização e receita.
  • Integração de canais: para o consumidor não existem mais fronteiras entre digital e físico. As experiências coerentes e conectadas são essenciais;
  • Humanização da tecnologia: IA e robótica são necessárias, mas devem ser um apoio aos colaboradores, já que o atendimento humano qualificado é um diferencial competitivo;
  • Dados como alicerce estratégico: decisões orientadas por dados e governança robusta garantem personalização, eficiência e sustentabilidade das operações;
  • Conecte-se com o cliente: o objetivo de quem deseja liderar seu segmento deve ser a criação de uma ideia de pertencimento da marca ao dia a dia do consumidor.

Em resumo, o segundo dia da NRF Europe reforçou que o futuro do varejo passa pela convergência entre tecnologia, dados, experiência do cliente e integração entre físico e digital. A adoção prática da IA, combinada com hiperpersonalização e engajamento humano, será determinante para empresas que buscam relevância, competitividade e fidelidade do consumidor.

A NRF Europe confirma para o nosso setor uma conclusão que a ASSERJ já vinha destacando: o futuro do varejo supermercadista está na convergência das tendências tecnológicas modernas, mas sem abandonar o lado humano vital das operações, sempre focando em proporcionar a melhor jornada possível para cada cliente, em qualquer canal que ele escolher.

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