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O custo invisível: como a falta de higiene corrói o lucro do seu supermercado

15/10/2025 • Last updated 1 Month

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No dia a dia do varejo supermercadista, o termo “quebra operacional” é sinônimo de prejuízo. Ele representa todo produto perdido por deterioração, avaria ou manuseio inadequado. Embora muitos fatores contribuam para essas perdas, a falta de controle sanitário é um dos principais catalisadores, agindo silenciosamente para reduzir as margens de lucro.

De acordo com a 8ª edição da pesquisa da Associação Brasileira de Prevenção de Perdas (ABRAPPE), o índice médio de perdas no varejo alimentar brasileiro atingiu 2,39% do faturamento bruto em 2024. Em supermercados convencionais, esse número chega a 2,79%. Pode parecer pouco, mas, em um setor de margens apertadas, esse percentual representa bilhões de reais perdidos anualmente. Os setores mais afetados são justamente os de produtos perecíveis — rotisseria (6,11%), FLV (6,10%), padaria (4,82%) e açougue (3,75%). Ambientes úmidos e ricos em matéria orgânica são o cenário ideal para a proliferação de bactérias, fungos e outros microrganismos que aceleram a deterioração dos alimentos. No setor de hortifrúti, por exemplo, resíduos orgânicos deixados em gôndolas e caixas servem de alimento para esses microrganismos, reduzindo a vida útil dos produtos e tornando-os impróprios para venda.

Segundo Flávio Graça, consultor técnico de Alimento Seguro da ASSERJ, o controle sanitário é uma das principais ferramentas de prevenção de perdas. “Muitos supermercadistas ainda enxergam as medidas preventivas como custo, quando na verdade são um investimento. Isto se deve à dificuldade de mensurar e correlacionar as quebras operacionais em decorrência de falhas nos processos de higiene na manipulação de alimentos. Um ambiente livre de contaminações reduz perdas, aumenta a vida útil dos produtos e fortalece a imagem do negócio”, destaca. Ele explica que a falta de cuidados quanto ao fluxo de produção e a higienização de equipamentos podem gerar contaminação cruzada ou seja, quando microrganismos ou substâncias indesejadas passam de um alimento contaminado para outro não contaminado. “Uma tábua de corte ou faca mal higienizada ou utilizada em outro alimento pode transferir bactérias para diversas superfícies e produtos, multiplicando o prejuízo e colocando em risco a saúde do consumidor”, alerta.

Além das perdas de produtos, a má gestão da higiene pode gerar sanções por parte dos órgãos reguladores. As principais regulamentações que regem o setor são a Resolução RDC nº 216/04 da ANVISA, e, no município do Rio, a portaria Nº 2 do IVISA de 11/11/2020 que estabelecem as Boas Práticas para Serviços de Alimentação as quais se aplicam a todas as etapas da operação, desde o recebimento de insumos até a exposição do produto final para venda. O não cumprimento dessas diretrizes pode resultar multas, inutilização de produtos e até interdição do estabelecimento. Para Graça, o segredo é enxergar a legislação como aliada, e não como obstáculo, pois a partir delas são criados os POPs (Procedimentos Operacionais Padronizados), capazes de nortear as ações nos mercados.

Flávio Graça também recomenda que o varejista vá além do básico e implemente o programa de autocontrole, o PAC. Ele permite identificar, controlar e mitigar riscos além de monitorar diariamente o cumprimento das boas práticas. Além de proteger o consumidor, os registros do PAC permitem a correção do problema antes que danos maiores sejam causados.

Mas o impacto da higiene vai além da operação e da conformidade. Uma pesquisa da ISSA (Associação Internacional de Limpeza Profissional) mostra que 60% dos clientes afirmam comprar mais em ambientes limpos, e 94% não voltariam a um local com banheiros sujos — associando a falta de cuidado à baixa qualidade dos produtos. Para Graça, essa percepção é determinante. “O cliente não vê a planilha de custos nem o POP de higienização. Ele percebe a qualidade e a conservação dos alimentos mesmo após levar para casa. Alimentos manipulados corretamente rendem mais porque se mantém frescos e saborosos por mais tempo. Isso é marketing silencioso que fideliza”, observa.

A segurança alimentar no varejo começa muito antes de o produto chegar à gôndola. Segundo o consultor, o processo deve ser rigoroso desde a doca de recebimento, onde é essencial inspecionar o transporte e a procedência, as condições de temperatura e higiene dos veículos e a integridade de embalagens. Quanto ao armazenamento, outra etapa importante, produtos de limpeza nunca devem ser armazenados junto com alimentos. Os prazos de validade dos produtos estocados devem ser verificados periodicamente. Ele destaca também que câmaras frias e freezers devem ser higienizados regularmente e possuir boa iluminação. As pilhas de produtos devem ser afastadas entre si e das paredes para permitir a circulação de ar. Todas as unidades de frio devem ter as suas temperaturas aferidas e registradas em planilhas de modo a detectar precocemente falhas na refrigeração ou congelamento.

Nos setores de maior risco, como açougue, peixaria, padaria e hortifrúti, o cuidado precisa ser redobrado. “No açougue, as superfícies devem ser de material não poroso e as facas precisam ser higienizadas constantemente. No hortifrúti, a limpeza diária das gôndolas evita a formação de biofilmes que aceleram a deterioração dos alimentos. Já na padaria e na rotisseria, é fundamental a informação correta e o uso criterioso de corantes permitidos, principalmente por conta dos alérgenos”, detalha o especialista.

A escolha dos produtos e equipamentos de limpeza também faz diferença. Somente produtos registrados na ANVISA e próprios para superfícies que entram em contato com alimentos garantem eficácia e segurança. Não são recomendados produtos de uso doméstico. As diluições recomendadas devem ser obedecidas caso contrário pode-se deixar resíduos tóxicos e contaminar os alimentos além de promover o desperdício”, alerta Graça.

Para o consultor, a segurança sanitária além de um dever é também um investimento que dá retorno. Um supermercado que trabalha com padrões elevados de higiene ganha em três frentes: reduz perdas, evita multas e conquista a confiança do cliente”, conclui.

Escola ASSERJ

A Escola ASSERJ está com inscrições abertas para a turma “Noções Básicas de Higiene e Boas Práticas de Manipulação de Alimentos em Serviços de Alimentação”. A formação é um diferencial de extrema importância para a prestação de um serviço de excelência no tratamento de alimentos dentro do setor supermercadista, abordando desde conceitos básicos sobre causas e fatores que influenciam a contaminação e a ocorrência de doenças transmitidas por alimentos (DTAs), passando por manipulação, boas práticas de higiene de instalações, equipamentos e pessoal, até a etapa voltada à saúde do manipulador, abordando especificamente a alimentação saudável.

O curso será ministrado pelo especialista Flávio Graça, consultor de Alimento Seguro da ASSERJ, e ao final, os participantes realizarão uma prova para obter a certificação. As turmas, exclusivas para colaboradores de associados da ASSERJ, serão realizadas em formato virtual e estão programadas para:

Turma 1: 04/11/2025, das 9h às 13h;

Turma 2: 11/11/2025, das 14h às 18h;

Turma 3: 18/11/2025, das 14h às 18h;

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